domingo, 8 de abril de 2012

Resenha: O Garoto no Convés - John Boyne

Em O Garoto no Convés, somos apresentados ao jovem John Jacob Turnstile, um orfão que, após uma série de contratempos, vai parar na embarcação do HMS Bounty com a função de criado do capitão. Logo de primeira, o jovem irá descobrir que a vida marítima não é exatamente como ele imaginava, então passa a bolar um plano para fugir do navio, mas será ele irá fazê-lo, mesmo com uma relação bastante leal ao capitão do navio? Se prepare para uma história épica, recheada de conflitos, tempestades, ilhas paradisíacas e um grande motim, que entrou para a história da marinha britânica.
"Nada melhor que o arrependimento e os pedidos de desculpa, mas certas coisas que acontecem na vida de uma pessoa ficam tão impressas na memória e tão gravadas no coração que é impossível esquecê-las. São como um ferrete."

Nota: 5/5




Confesso que desejei ler esse livro apenas por ser do mesmo autor de O Menino do Pijama Listrado, o irlandês John Boyne, mesmo nunca tendo lido ao livro, como a própria editora vendeu, mas fui surpreendido com essa maravilhosa história. Ele soube criar e desenvolver os personagens de uma forma muito boa, chega a ser impossível não se sentir conectado a eles, principalmente aos 19 homens lançados na pequena lancha após o motim.

A narração do livro é outro ponto positivo, pois é bem simplista e, portanto, de fácil compreensão. Sem contar com uma característica bastante conhecido para os conhecedores da literatura brasileira, para ser mais especifico, para quem conhece a literatura machadiana. Onde eu quero chegar é no diálogo entre o narrador, no caso Turnstile - o livro é narrado em 1ª pessoa - e o leitor, algo bem comum nas obras de Machado de Assis, vide Memórias Póstumas de Brás Cubas, o qual, por incrível que pareça, é também um livro de memórias, como sugere o próprio nome.


Os capítulos são relativamente grandes, mas não o suficiente para deixar a leitura entediante. É impressionante a forma que John Boyne decidiu dividir os capítulos da quarta parte de história - o livro é dividido em cinco -, isto é, a parte da barca, essa divisão é realizada por dia, o que são um total de quarenta e oito, logo, temos 48 capítulos. O que pode parecer algo absurdo de tão grande, mas não é e deixa a leitura ainda mais prazerosa, graças a riqueza de detalhes.




Contudo, o ponto mais positivo é, de longe, o carácter histórico da obra. Desde o início eu sabia que o capitão tanto citado no livro era real, o Capitão James Cook, pois havia pesquisado na internet, mas pensei ser apenas uma referência. Somente quando terminei de ler o livro foi quando descobri tudo era verdade, mesmo Boyne tendo alterado uma coisa ou outra, como exemplo temos o modo como o Capitão Bligh é retratado, o verdadeiro ficou conhecido por ser um homem bastante severo, já o do livro é bem sentimental.


Gostei bastante de como a forma de pensar dos ingleses da época, ou seja, a superioridade na qual eles acreditavam ter sobre as outras nações do mundo foi retratada, o
 tão conhecido eurocentrismo. Há vários momentos do livro no qual podemos observar isso, como a forma de o senhor Bligh se referir aos nativos, chamando-os de selvagens; há também a posse de terras pelos britânicos, ao chegar nas terras descobertas, estas passam a ser deles e não daqueles que viviam lá anteriormente.

Talvez o único, mas não grande, problema do livro é a linguagem marítima, o que, para ignorantes no assunto como eu, não ajuda muito na leitura. Há um momento na história no qual um parágrafo quase inteiro é Tutu descrevendo algumas partes do navio, me deixando bastante confuso. Porém, é como dizem, o dicionário é o melhor amigo de um leitor e ele me ajudou muito nisso.

O Garoto no Convés é, de longe, um dos melhores livros que já tive o prazer de ler. Além de ter um grande caráter histórico, é divertido e engraçado e ao mesmo tempo sério. John Boyne fez um trabalho incrível, não vejo a hora de ler suas outras obras, as quais ainda não tive o deleite de ler, principalmente O Menino do Pijama Listrado, o qual tem um filme excelente. Onde quero chegar é, embarcar nessa viagem como jovem Turnstile é uma das melhores experiencias literárias que você pode chegar a ter.


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