"Nada melhor que o arrependimento e os pedidos de desculpa, mas certas coisas que acontecem na vida de uma pessoa ficam tão impressas na memória e tão gravadas no coração que é impossível esquecê-las. São como um ferrete."
Nota: 5/5
Confesso que desejei ler esse livro apenas por ser do mesmo autor de O Menino do Pijama Listrado, o irlandês John Boyne, mesmo nunca tendo lido ao livro, como a própria editora vendeu, mas fui surpreendido com essa maravilhosa história. Ele soube criar e desenvolver os personagens de uma forma muito boa, chega a ser impossível não se sentir conectado a eles, principalmente aos 19 homens lançados na pequena lancha após o motim.
A narração do livro é outro ponto positivo, pois é bem simplista e, portanto, de fácil compreensão. Sem contar com uma característica bastante conhecido para os conhecedores da literatura brasileira, para ser mais especifico, para quem conhece a literatura machadiana. Onde eu quero chegar é no diálogo entre o narrador, no caso Turnstile - o livro é narrado em 1ª pessoa - e o leitor, algo bem comum nas obras de Machado de Assis, vide Memórias Póstumas de Brás Cubas, o qual, por incrível que pareça, é também um livro de memórias, como sugere o próprio nome.
Os capítulos são relativamente grandes, mas não o suficiente para deixar a leitura entediante. É impressionante a forma que John Boyne decidiu dividir os capítulos da quarta parte de história - o livro é dividido em cinco -, isto é, a parte da barca, essa divisão é realizada por dia, o que são um total de quarenta e oito, logo, temos 48 capítulos. O que pode parecer algo absurdo de tão grande, mas não é e deixa a leitura ainda mais prazerosa, graças a riqueza de detalhes.
Contudo, o ponto mais positivo é, de longe, o carácter histórico da obra. Desde o início eu sabia que o capitão tanto citado no livro era real, o Capitão James Cook, pois havia pesquisado na internet, mas pensei ser apenas uma referência. Somente quando terminei de ler o livro foi quando descobri tudo era verdade, mesmo Boyne tendo alterado uma coisa ou outra, como exemplo temos o modo como o Capitão Bligh é retratado, o verdadeiro ficou conhecido por ser um homem bastante severo, já o do livro é bem sentimental.
Gostei bastante de como a forma de pensar dos ingleses da época, ou seja, a superioridade na qual eles acreditavam ter sobre as outras nações do mundo foi retratada, o tão conhecido eurocentrismo. Há vários momentos do livro no qual podemos observar isso, como a forma de o senhor Bligh se referir aos nativos, chamando-os de selvagens; há também a posse de terras pelos britânicos, ao chegar nas terras descobertas, estas passam a ser deles e não daqueles que viviam lá anteriormente.
Talvez o único, mas não grande, problema do livro é a linguagem marítima, o que, para ignorantes no assunto como eu, não ajuda muito na leitura. Há um momento na história no qual um parágrafo quase inteiro é Tutu descrevendo algumas partes do navio, me deixando bastante confuso. Porém, é como dizem, o dicionário é o melhor amigo de um leitor e ele me ajudou muito nisso.
